domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ajustamento Criativo e Neurótico

Já mencionei anteriormente que o que realmente me encanta na GT é o fato de que esta abordagem não categoriza o indivíduo numa patologia qualquer, num rótulo que possivelmente o irá acompanhar vida afora e que irá afetar seu modo de se relacionar com o mundo e perceber a si mesmo.
Hoje vou tentar ir um pouco mais a fundo no modo com a Gestalt entende que as pessoas adoecem. Primeiramente, todas aquelas doenças das quais ouvimos falar diariamente - transtorno bipolar, depressão, transtorno obessessivo compulsivo, esquizofrenia, entre outros -, em gestalt vamos chamar de neurose, ou melhor ainda, de ajustamento neurótico. Ok...com isso em mente, vamos começar a diferenciar um funcionamento saudável de um funcionamento disfuncional.
Como falei anteriormente, estamos sempre buscando voltar ao nosso estado de equilíbrio a partir da satisfação das nossas necessidades (figuras) que emergem de um fundo. Dessa forma, quando um homem sente o excitamento que pede para ser saciado e busca soluções para poder satisfazer aquela necessidade, ou, ao contrário, se ele deixa de lado o que não é seu ou que não considera como sendo vitalmente interessante, pode-se dizer que ele tem um funcionamento sadio, já que está fazendo o melhor que pode de acordo com o que o meio lhe oferece, e a isso chamamos Ajustamento Criativo (“ajustamento” pois é feito, vivido e dinâmico, não-passivo e “criativo” no sentido de estar ligado à busca de um equilíbrio dinâmico, de uma auto-regulação). No entanto, se ele se aliena, se não se dá conta do que acontece consigo mesmo e não consegue formar figuras, identificar suas necessidades, sua espontaneidade está comprometida e isso torna sua vida confusa, dolorosa e nesse caso, diz-se que há um Ajustamento Neurótico. No Ajustamento Neurótico a necessidade genuína não pode ser satisfeita, pois não é identificada.
De acordo com visão gestáltica de homem e de como este relaciona-se no campo, toda e qualquer psicopatologia (forma disfuncional de agir no campo) é na verdade, um ajustamento neurótico, que em algum momento, foi criativo (tenham isso em mente!). Ou seja, se em alguma situação de sua vida o excitamento surgiu, pedindo para ser satisfeito, mas houve uma repressão desse excitamento, seja porque as possibilidades de satisfação não foram fornecidas pelo meio, ou porque eram demasiado ameaçadoras e houve a deliberação consciente em não satisfazê-las; houve um ajustamento criativo, pois a pessoa fez contato com sua necessidade e com o meio. Mas se situações assim tornaram-se crônicas, a resposta de conter o excitamento torna-se um hábito. Aquilo que antes era criativo, pois estava em contato com o momento presente, deixa de sê-lo. Por isso é que se diz que no ajustamento neurótico, a pessoa dá respostas antigas, a situações novas. Não há contato com o momento presente e a pessoa não consegue assimilar que aquelas respostas que serviram lá atrás, não se encaixam mais com a situação atual.
A neurose, para a Gestalt-terapia, nada mais é do que a incapacidade de alterar as técnicas de manipulação e interação com/no meio. Quando se dá respostas antigas a situações novas, fica-se menos disponível a ir ao encontro de qualquer de suas necessidades de sobrevivência, inclusive as sociais. A deliberação saudável ocorre quando há a restrição consciente de determinados interesses, percepções e movimentos para concentrar a atenção em outra parte. No entanto, o comportamento neurótico é aprendido quando essa deliberação por “não agir”, ou segurar um impulso, torna-se um hábito pela repetição e dali a algum tempo, não se entrará mais em contato com aquele hábito (a pessoa não se dá mais conta daquilo). Se alguém tem o hábito de andar corcunda, por exemplo, deixar de fazê-lo torna-se doloroso pois é como se o "ser corcunda" fosse sua forma natural de funcionar.

Ainda há outros aspectos a serem considerados relativos ao ajustamento neurótico, mas irei falar sobre eles nos próximos posts, já que é muita informação pra ser digerida e assimilada.
Até a próxima!

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