domingo, 22 de janeiro de 2012

É familiar...

Depois de um longo tempo sem escrever, cá estou eu novamente. Meu processo de escrever é assim...às vezes eu preciso ir "digerindo" as idéias até que considere que elas fazem sentido o bastante para passar para o concreto. Esses tempos estava pensando no conceito de fronteira de familiaridade da gestalt-terapia. Quando falei de contato num dos primeiros posts do blog, mencionei que o contato acontece na fronteira, entre aquilo que sou eu e não-eu. Essa fronteira não é algo palpável, algo visível, mas ela está ali. É o que torna possível identicar o que faz parte de mim e o que não faz. É ali que ocorrem as trocas com o meio, é o que nos permite acessar o mundo, tocarmos e sermos tocados e ao mesmo tempo, o que nos limita e nos protege (para que fique mais claro, olhar também o post sobre contato).
Quando falamos em fronteira de familiaridade, estamos falando ainda da fronteira-de-contato, mas a familiaridade é uma das características que ela tem, uma das "formas" de contato. Acontece mais vezes do que podemos imaginar, que essa fronteira seja rígida ou alargada demais. Quando tudo que é novo (não familiar) nos assusta a tal ponto de vivermos em situações que não nos satisfazem, nos deixam infelizes, mas que ainda assim, por serem situações familiares, conhecidas, tornam-se menos "ameaçadoras" do que o que pode ser, existe aí uma fronteira rígida. Não há mobilidade, não há discriminação; só o que é conhecido passa. É assim também quando uma pessoa sente dores em determinada parte do corpo todos os dias durante uma semana por exemplo, e a dor continua por meses, mas as pessoa "aprende" a conviver com ela. E a mesma dor do início já não "incomoda tanto". Muitas vezes podemos nos acostumar com as coisas dolorosas tão facilmente quanto com as coisas que nos fazem bem. Algumas pessoas estão tão acostumadas a serem ignoradas pelos outros que não sabem o que fazer ou o que sentir quando são realmente vistas.
Olhar para essas coisas, estar ciente das coisas que fazemos a nós mesmos, do quanto interrompemos nosso fluxo e troca saudável com o meio ou nos limitando em uma redoma sufocante ou nos deixando ser atropelados por qualquer coisa que apareça, não é algo fácil - mas é extremamente necessário. Então proponho que por alguns instantes você possa refletir com o que já é conhecido na sua vida: padrões de situações, de pessoas, de sentimentos. O que tem sido familiar a você a ponto de algo que é desejado ser mais assustador do que a "cama de pregos" em que você está? O que o impede de sair desse lugar conhecido e sofrido?